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Editorial: Pela Saúde nasce uma nova Europa?

Após o BREXIT ficámos todos com a ideia de falhanço político da União Europeia (UE). É o problema do ovo e da galinha, quem é que nasce primeiro? Para que a UE funcione politicamente melhor os Governos dos países membros devem aceitar perder a sua autonomia e isso é perder o controle dessa idílica relação entre os eleitos e os seus eleitores.

A solução é hoje utópica: quem dirige a UE deverá ser eleito por sufrágio universal e direto de todos os seus cidadãos. Com isto o debate político europeu passaría a um plano nacional como ocorre hoje nos Estados Unidos ou no Brasil. Mas vamos passo a passo. Para que cheguemos a esse novo patamar na UE muita coisa terá que acontecer primeiro.

No âmbito da Saúde, Portugal está a ter um papel muito meritório. A necessidade assim o obriga é certo, mas o mérito para dar o primeiro passo está aí. Vão ter lugar este mês de maio as conversações para as compras conjuntas de medicamentos entre Portugal e Espanha. Este concerto ibérico, constitui uma oportunidade de ouro para o ministério da saúde espanhol ganhar por fim uma relevância que até agora não tinha. Obter o consenso entre as várias regiões ibéricas para ganhar economias de escala é fácil apenas teoricamente. A Catalunha está numa tal rota de colisão que qualquer pretexto para funcionar a uma escala ibérica se constitui numa verdadeira ameaça para os maniqueístas ideais nacionalistas.

Mas também em Portugal se encontram essas vozes nacionalistas – ‘de Espanha nem bom vento nem bom casamento’, ‘depois de tudo o que sofreram os nossos antepassados para livrar-nos dos espanhóis, viva a nossa independência!’ – são os pensamentos mais usuais entre os nacionalistas portugueses e semelhantes aos dos angolanos ou moçambiquanos, ou até mesmo dos brasileiros, em relação a…Portugal. Visto nesta perspectiva todos compreendemos que a forma de pensar nacionalista e este grito de ‘viva a independência’ é extremamente útil para fazer coesionar todo um povo, investido num governo próprio.

Mas a necessidade aguça o engenho. As ex-colónias britânicas na américa do norte convertem-se nos Estados Unidos da América pelo seu afã independentista, criando aquele que é hoje um dos mais fortes espiritos nacionalistas no mundo. Assim sendo, a fórmula para a UE é simples – criar um forte sentido nacionalista Europeu. Eu proponho que esta futura identidade Europeia possa começar pela união de nacionalismos regionais (como o Benelux) e com os valores mais partilhados que se juntam entre si primeiro para criar algo mais atractivo antes de se associarem a outros países e criar essa mega-entidade distante e ‘euro-nacional’.

Por exemplo, os portugueses devem começar por reinvindicar o seu direito à hispanidade. E pedir que o referendo da Catalunha, se transforme num outro que seja aberto a todos os cidadãos da peninsula ibérica com esta questão: “está de acordo que todos os povos da peninsula ibérica tenham um parlamento único, eleito por sufrágio directo e universal e que desse parlamento seja emanado um governo ibérico que, unindo esforços e recursos, possa dar melhor resposta aos problemas da cidadania em matéria de saúde, protecção civil, segurança, acessibilidades e transportes, agricultura e urbanismos sustendados, cultura e educação dentro dos valores de cidadania e apreço à familia e à amizade que nos são comuns e que fazem da peninsula ibérica algo culturalmente único e distintivo em todo o mundo, que até deu novos mundos ao mundo?”.

É apenas uma questão de tempo até que ganhe o sim. A compra conjunta de medicamentos na peninsula ibérica é hoje um pequeno grande passo para a construção Europeia. Passo a passo.

By | 2017-05-02T16:37:03+01:00 Abril 27th, 2017|Categories: EDITORIAL|0 Comments

About the Author:

Licenciado em psicologia social pelo ISPA, mestrado em gestão de informação pela Universidade de Sheffield e doutorado em ciências da gestão pela Universidade de Lancaster. Desde 1996, foi professor no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e no ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, concluiu o doutoramento na Management School da Universidade de Lancaster em Novembro de 2000. Foi consultor do Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e levou a cabo diversos trabalhos de consultoria e projetos de investigação para o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, várias empresas do grupo EDP, Ministério da Saúde Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga, e PWC, em Espanha onde reside. Como facilitador profissional certificado e membro da IAF (International Association of Facilitators), iniciou as Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde em Espanha e o Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. É especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo) e projeta intervenções para otimizar a mudança e a inovação em saúde e educação. Desde 2020, é cofundador da Digital Collaboration Academy, uma empresa com sede em Londres, dedicada a facilitar o caminho para a adoção de ferramentas para a colaboração digital. Autor e editor de "Arquitetar a Colaboração", o título de uma série de livros dedicados à facilitação de grupos, seus princípios, métodos e técnicas.

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