You are here:--Um desempenho sistémico para Portugal: O Caso do SNS

Um desempenho sistémico para Portugal: O Caso do SNS

(subscreva a nossa newsletter para ler estes editoriais no LinkedIn: aqui)

Se após um debate de uma moção de censura ao Governo, os portugueses mudarem de opinião sobre o seu desempenho, cumpre-se o objetivo dos partidos políticos na oposição mas apenas no caso em que essa mudança de opinião seja para menos favorável. Também pode ocorrer o contrário.

A falta de um conjunto de indicadores objetivos e fiáveis sobre a performance geral do país faz com que estes debates sejam úteis apenas para quem luta pela conquista do poder, mas pouco ajudam a resolver os problemas dos portugueses.

Falta uma abordagem sistémica ao desempenho do País que permita fundamentar com dados objetivos a resposta a questões cruciais como, estamos ou não melhor ou o que precisamos mudar?

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal, um pilar fundamental do sistema de saúde do país, está em constante evolução. À medida que as necessidades e desafios na assistência médica e nos cuidados de saúde se transformam, torna-se imperativo adotar uma abordagem sistémica para assegurar que o SNS cumpra eficazmente as necessidades de saúde da população portuguesa.

Recentemente, têm surgido debates significativos sobre a medição do desempenho e produtividade, e como isto se relaciona com o alcance dos objetivos do SNS. As discussões têm explorado a diferença entre medir a produtividade, frequentemente quantitativa e imediata, e medir o desempenho, que envolve considerações mais amplas e a longo prazo.

Na verdade, esta distinção é crucial, porque, ao adotar uma perspetiva sistémica, reconhecemos que o SNS não é apenas um conjunto de hospitais, clínicas e profissionais de saúde isolados, mas sim um sistema complexo em que diferentes partes interagem. Ao medir o desempenho do SNS, é essencial considerar não apenas os resultados imediatos, como o número de consultas ou cirurgias realizadas, mas também a qualidade dos cuidados prestados, a coordenação entre os diferentes níveis de atendimento, a eficiência na alocação de recursos e, fundamentalmente, o impacto a longo prazo na saúde da população.

Não podemos ignorar o horizonte temporal ao medir o desempenho do SNS. Avaliar o sucesso do sistema apenas a curto prazo pode levar a decisões subótimas e à negligência de problemas de longo prazo. Devemos ter em mente que o SNS é um projeto contínuo que visa melhorar a saúde da população ao longo de gerações.

Por exemplo, é óbvio que há uma escassez de médicos de família em Portugal para cumprir com um modelo organizacional que atribui um número máximo de pessoas a cada médico. Mas se esse modelo organizacional for alterado criando-se o conceito de equipas de saúde, como um exemplo, cada português já poderia dispor hoje mesmo de um médico de família, enquadrado na sua equipa de saúde com enfermeiros e administrativos asignados. A questão é, em que medida isso irá impactar na melhoria da saúde das pessoas. Não podem existir outras medidas como a proibição de fumar, por exemplo, que causem mais bem-estar imediato para todos (fumadores e não fumadores) e menos gastos no SNS?

Uma lição valiosa que podemos retirar destas discussões recentes é que a medição do desempenho do SNS deve ser holística e adaptada às suas dinâmicas que são complexas. Isso significa levar em consideração não apenas as métricas quantitativas, mas também as qualitativas. Devemos considerar não apenas o que é facilmente mensurável, mas também o que é essencial para a saúde e o bem-estar dos cidadãos portugueses.

Por isso, ao avaliar o desempenho do SNS, não podemos ignorar o fator humano. As pessoas, desde os profissionais de saúde até aos pacientes, são a espinha dorsal do sistema. Portanto, uma abordagem sistémica deve levar em consideração como as interações humanas, a comunicação eficaz e a colaboração impactam o desempenho geral do SNS.

Neste sentido, é fundamental reconhecer a importância da variável liderança como um elemento crítico em todo o sistema.

A recente literatura em gestão introduz novos modelos como o da “liderança compassiva”, um conceito desenvolvido por especialistas como Michael West, e que tem sido usado com sucesso na gestão de serviços de saúde.

A liderança compassiva reconhece a importância de líderes que se preocupam genuinamente com o bem-estar das suas equipas e pacientes. Numa organização de saúde, onde as pressões podem ser avassaladoras, a empatia e o apoio por parte dos líderes são essenciais. Os gestores hospitalares que demonstram compaixão não apenas promovem um ambiente de trabalho mais positivo e colaborativo, mas também melhoram a qualidade dos cuidados, pois equipas mais motivadas tendem a oferecer cuidados mais atenciosos e eficazes. Portanto, à medida que buscamos potenciar o desempenho sistémico do SNS adaptado ao século XXI, é vital que a liderança compassiva seja uma parte integral dessa jornada.

Em resumo, para alcançar um SNS de nova geração que atenda às expectativas da sociedade, é vital adotar uma perspetiva sistémica ao avaliar o desempenho do SNS. Isso significa medir não apenas o que é fácil de contar, mas também o que realmente importa para as pessoas. É reconhecer que o sistema é mais do que a soma de suas partes e que os aspetos humanos são centrais para o seu sucesso. É lembrar que estamos a construir para o longo prazo, buscando constantemente melhorias que beneficiem as futuras gerações de portugueses. E é também incorporar a liderança compassiva como uma pedra angular dessa jornada, garantindo que todos, desde os pacientes até os profissionais de saúde, sejam cuidados e apoiados de maneira abrangente.

Think Tank SNS de Contas Certas

O Think Tank SNS de Contas Certas tem o prazer de anunciar o seu próximo plenário, que promete ser uma plataforma significativa para discussões cruciais relacionadas com a gestão do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este evento decorre no primeiro dia dos Change Health Days@FMUP no próximo dia 28/09 e reunirá especialistas, gestores de saúde, acadêmicos e líderes do setor para abordar questões prementes que afetam o presente e o futuro do SNS.

Agradecemos a todos os participantes, oradores e à Ordem dos Médicos por sediar este evento enriquecedor. Que este plenário seja um catalisador de ideias inovadoras e ações positivas à medida que trabalhamos em direção a um SNS mais sólido e adaptado às necessidades da nossa população.


Crédito imagem de topo: Celso Nisterenko

By | 2023-09-22T00:47:52+01:00 Setembro 20th, 2023|Categories: EDITORIAL|Comentários fechados em Um desempenho sistémico para Portugal: O Caso do SNS

About the Author:

Licenciado em Psicologia Social e das Organizações pelo ISPA, detém um mestrado em Gestão de Informação pela Universidade de Sheffield e um doutoramento em Ciências da Gestão pela Universidade de Lancaster. A partir de 1996, desempenhou a função de professor no Instituto Superior de Psicologia Aplicada e na ISEG (Escola de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa). Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, concluiu o doutoramento na Management School da Universidade de Lancaster em Novembro de 2000. Acumulou vasta experiência como consultor, colaborando com o Governo Regional da Madeira (Direção Regional de Saúde) e participando em diversos projetos de consultoria e investigação em parceria com instituições como o ISEG, INETI, Câmara Municipal de Évora, várias empresas do grupo EDP, Ministério da Saúde de Portugal, Eureko BV, Observatório Europeu da Droga e PWC em Espanha. Certificado como facilitador profissional e membro da IAF (International Association of Facilitators), teve um papel crucial na conceção das Cimeiras Ibéricas de Líderes de Saúde na Espanha, além de ter sido co-fundador do Fórum do Hospital do Futuro em Portugal. Especializado em GDSS (sistemas de apoio à decisão em grupo), projetou intervenções para otimizar processos de mudança e inovação nos setores de saúde e educação. Desde 2020, é cofundador da Digital Collaboration Academy, uma empresa sediada em Londres dedicada a facilitar a adoção de ferramentas para a colaboração digital. Autor e editor da série de livros "Arquitetar a Colaboração", aborda princípios, métodos e técnicas de facilitação de grupos. Sua trajetória, combinada à experiência como residente em vários países e presentemente em Portugal, moldou sua abordagem voltada para as estratégias de colaboração e desenvolvimento económico.